Os dados são da Organização Mundial de Saúde (OMS) e só no Brasil, segundo dados do Censo de 2010 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), três em cada 1.000 crianças sofrem algum tipo de perda auditiva. Apesar de o atraso ou dificuldades na fala, além da falta de diálogo, serem os sinais mais importantes de perda auditiva, muitos pais relacionam esses problemas a outros distúrbios e só buscam tratamento quando novos sintomas começam a surgir. Diagnósticos equivocados e o costume de esperar que a criança desenvolva o diálogo naturalmente podem acarretar danos irreparáveis na infância e até na vida adulta; além de atrasar o tratamento do déficit auditivo.

Quanto antes o tratamento for iniciado, maiores as chances de desenvolvimento da criança, além de melhores resultados no processo de tratamento que possibilitam que o desempenho comunicativo seja alcançado mais rapidamente, muito próximo ao de crianças ouvintes. A perda auditiva pode ser diagnosticada com uma audiometria, um exame simples que detecta a doença em até 90% dos casos, dependendo da idade e da colaboração da criança.

Mesmo que a criança, quando recém-nascida, tenha passado pelo Teste da Orelhinha sem apresentar alterações, ao menor sinal de dificuldade na fala é importante que ela seja submetida a novos exames, pois a perda auditiva pode ser genética ou progressiva, ou mesmo ser causada por medicamentos ototóxicos ou por infecções, como sarampo, rubéola e meningite, se manifestando, portanto, ao longo da infância. Exames como o PEATE (Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico) e o EOA (Emissão Otoacústica) podem detectar o grau de perda auditiva, servindo como ponto de partida para que o médico otorrinolaringologista indique o tratamento mais adequado para cada caso.

O processo de maturação do sistema auditivo central ocorre durante os primeiros anos de vida. Por isso, a estimulação sonora neste período de maior plasticidade cerebral é imprescindível, já que para o aprendizado da linguagem oral e, consequentemente, o desenvolvimento intelectual, emocional e de habilidades, é preciso que as crianças interajam com seus interlocutores e, assim, estabeleçam novas conexões neurais. É importante enfatizar também que há diferenças entre ouvir e escutar. Os sons que entram pelos ouvidos precisam fazer sentido, ter significado.

Com o passar dos anos, por causa da falta de diálogo com outras pessoas, a perda auditiva afeta a socialização e a autoestima das crianças e também pode prejudicar bastante seu desenvolvimento cognitivo e alfabetização. De acordo com o Censo Escolar, entre 2011 e 2016 houve redução de 23% no universo de estudantes surdos, o que dá a entender que esse público estaria deixando a escola. Não raro, há pessoas que só identificam a perda auditiva na universidade e descobrem que problemas de aprendizagem e até mesmo o déficit de atenção diagnosticado na infância eram, na verdade, oriundos de dificuldades para ouvir.

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Sobre o Autor

Me chamo Ana Lúcia Duran e sou fonoaudióloga clínica graduada pela UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina e pós graduada em psicomotricidade. Atuo na área educacional e sou responsável pelo projeto oficina de linguagem do colégio Cermac/ vencedor do PNGE – Prêmio Nacional de Gestão Educacional/2015.