Figura emblemática da ciência, um pesquisador obstinado e um mestre na divulgação científica, o francês Louis Pasteur (1822-1895) é agora homenageado na exposição Pasteur, o Cientista, em cartaz até 29 de novembro no Sesc Interlagos. A mostra exibe as descobertas do cientista por meio de obras organizadas em ordem cronológica e traz ao público desde a solução de um enigma químico até a vitória de Pasteur contra a raiva, doença que, no século XIX, era tida como incurável.

Organizada e concebida em 2017 pela Universcience – órgão do Ministério da Cultura da França -, a exposição tem curadoria de Éric Lapie – que assinou mostras como Leonardo Da Vinci, a Natureza da Invenção e Darwin, e faleceu antes que essa exposição estivesse pronta – e Astrid Aron e curadoria científica de Maxime Schwartz, e já foi exibida no Palais de la Découverte, em Paris. Pela primeira vez fora da França, para sua estreia no Brasil, a exposição contou com curadoria nacional de Juliana Manzoni Cavalcanti e Vanessa Pereira Mello, pesquisadoras doutoras da Fiocruz. É uma realização do Sesc São Paulo e da Universcience, com patrocínio da Sanofi Brasil e do Magazine Luiza, por meio da Lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal, e apoio da Embaixada da França no Brasil, da Fiocruz e do Instituto Butantan.

Inaugurada no Brasil em fevereiro, a mostra teve sua visitação interrompida devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19. Reaberta em outubro, a exposição agora pode ser visitada gratuitamente pelo público de quarta a sexta-feira, das 10h30 às 15h, mediante agendamento prévio pelo site. As visitas à exposição de Pasteur têm capacidade reduzida para 10 pessoas a cada 30 minutos e o uso de máscara facial é obrigatório para todas as pessoas, durante todo o período. Ao final de cada circuito, antes de receber novos visitantes, é realizada higienização do espaço, das obras e de equipamentos.

A exposição convida o público a conhecer e celebrar vida e obra de Pasteur por meio de vídeos, grafismos, animações, projeções, textos e desenhos. O visitante não apenas conhece a ciência do século XIX – época de desenvolvimento e inovações – como também revive as descobertas do icônico cientista em experiências interativas e lúdicas. Pasteur, o Cientista tem, ainda, a proposta de trazer a reflexão e discussão sobre a valorização da ciência e do ato histórico como elemento constituinte não somente da memória e da identidade, mas como a mais sólida base para o crescimento e o desenvolvimento da humanidade.

Ato a ato

Os núcleos da exposição foram estruturados em seis atos, tal qual uma peça de teatro. Os visitantes são recebidos pelos educadores do Sesc e conduzidos por um percurso lúdico e interativo que remonta a trajetória e os feitos do célebre inventor.

No Prólogo, o espectador se depara com um busto de Pasteur, escultura na qual é projetada um video mapping e que traz áudio de Marie Pasteur, que narra a trajetória do marido.

No Ato 1Cristais e Dissimetria, o visitante assiste às descobertas que Pasteur realizou entre os anos de 1847-1857. É o início de tudo: aos 21 anos, ele decide – e consegue – resolver um mistério da ciência. Aqui, um filme, uma experiência ótica e um jogo de classificação ajudam a entender o processo.

Indo para o Ato 2 – Fermentações, é a hora de conhecer o Pasteur dos anos 1857 e 1876, época em que trabalhou os microorganismos da fermentação. Por meio de microscópios e jogos interativos, o visitante aprende como o cientista inventou a pasteurização e resolveu impasses de indústrias como a da cerveja e do vinho. No mesmo núcleo, começam as relações com descobertas sobre contaminação por microorganismos e doenças. De 1859 a 1864, Pasteur viveu a polêmica do surgimento dos microorganismos. O cientista enfrenta outros cientistas e prova sua teoria.

No Ato 3 – Gerações espontâneas?, o visitante descobre como foi, passo a passo, esse processo por meio de uma multimídia instalada em vitrine mágica.

Nos anos seguintes, entre 1865 e 1869, o cientista trabalha em sua primeira pesquisa em patologias animais. É o Ato 4 – Doenças dos bichos-da-seda, que reúne maquetes, equipamentos de época e dioramas que ilustram o método e as descobertas de Pasteur sobre as doenças dos insetos produtores.

O auge da carreira de Pasteur acontece de 1876 a 1895, época em que se debruça sobre doenças infecciosas. Na época, galinhas e carneiros receberam vacinas em experiências bem-sucedidas. O cientista ganha fama mundial com a invenção da vacina contra a raiva. No Ato 5 – Doenças infecciosas e vacinas, o visitante percorre um cenário lúdico de fazenda e é convidado a interagir com jogos sobre as vacinas, filmes e maquetes que contam como Pasteur chegou até as vacinas contra doenças dos animais.

O ato final, Epílogo – Pasteur e o Brasil, traz à tona a relação de Pasteur com o povo brasileiro. Enquanto o célebre cientista fazia a ciência avançar na Europa, os reflexos de suas pesquisas chegavam ao Brasil. D. Pedro II era um grande admirador de Pasteur, trocou correspondência com ele e até tentou trazê-lo para o Brasil, fazendo uma generosa contribuição para a criação do Instituto Pasteur. Foram fundados institutos de pesquisa e diversos cientistas e médicos brasileiros se destacaram na área, em especial Vital Brazil e Oswaldo Cruz.

Ciência aplicada à vida prática

Pasteur não foi o primeiro nem o único a criar uma vacina, mas sua pesquisa e a aplicação da antirrábica o transformou em símbolo da imunização. Era um cientista com visão exímia: trabalhou na pesquisa ligada à indústria e às atividades econômicas importantes, aperfeiçoando métodos de cultivo e processamento de indústrias relevantes como as do vinho, da seda e de animais de corte. Resolveu problemas logísticos – não ao acaso, seu nome batiza o processo de conservação de alimentos batizado como pasteurização – e salvou atividades econômicas prejudicadas por pragas.

Nascido no interior da França em 1822, de uma família de curtidores de couro, Louis Pasteur fez avançar a Química e a Medicina no século XIX e, como um dos criadores da Microbiologia, redefiniu horizontes ao provar que existem micro-organismos e ao definir como se reproduzem, proliferam e colonizam outros organismos – e ainda como são responsáveis pelas doenças infecciosas.

Estudou germes, vírus, fungos e demais “seres infinitamente pequenos”. Estabeleceu, assim, novos paradigmas para as ciências e novos procedimentos, inclusive para a Medicina, salvando incontáveis vidas ao introduzir a assepsia nos cuidados com doentes. Antes disso, era comum que os médicos sequer lavassem as mãos nos atendimentos.

Pesquisador respeitado entre seus pares – era de um extremo rigor nos métodos -, ganhou fama mundial também junto ao grande público ao descobrir a vacina contra a raiva, em 1885. No Brasil, tinha muitos seguidores e admiradores, entre os quais o imperador Pedro II e Oswaldo Cruz, que foi um dos cientistas que trabalharam na esteira de suas realizações.

Foi também um brilhante comunicador – hoje, poderia se dizer um ser midiático. Sabia chamar a atenção da comunidade científica e da população para assegurar que suas descobertas chegassem ao maior número possível de pessoas, com demonstrações públicas e grandiloquentes de suas descobertas. “Para provar ao público reunido na Sorbonne que as bactérias estavam por toda parte, mesmo no ar, ele direcionou um projetor de luz para iluminar os grãos de poeira”, comenta Astrid Aron, museógrafa da exposição.

Era também um empreendedor, registrando patentes e criando empresas para explorar suas descobertas. “Seu principal objetivo não era reunir uma fortuna, mas assegurar fundos para prosseguir com as pesquisas”, explica o curador científico Maxime Schwartz, ex-diretor geral do Instituto Pasteur. “Podemos até dizer que Pasteur era uma espécie de precursor das startups de hoje”, conclui.

A fama conquistada pela vitória contra a raiva, com a vacina pioneira em 1885, permitiu que levantasse fundos internacionais para fundar, três anos depois, o Instituto Pasteur que, com braços pelo mundo, iria disseminar a imunização.

Orientações de segurança para visitantes

O Sesc São Paulo retoma, de maneira gradual e somente por agendamento prévio online, a visitação gratuita e presencial a exposições em suas unidades na capital, na Grande São Paulo, no interior e no litoral. Para tanto, foram estabelecidos protocolos de atendimento em acordo com as recomendações de segurança do governo estadual e da prefeitura municipal.

Para diminuição do risco de contágio e propagação do novo coronavírus, conforme as orientações do poder público, foram estabelecidos rígidos processos de higienização dos ambientes e adotados suportes com álcool em gel nas entradas e saídas dos espaços. A capacidade de atendimento das exposições foi reduzida para até 5 pessoas para cada 100 m², com uma distância mínima de 2 metros entre os visitantes e sinalizações com orientações de segurança foram distribuídas pelo local.

A entrada na exposição será permitida apenas após confirmação do agendamento feito no portal do Sesc São Paulo. A utilização de máscara cobrindo boca e nariz durante toda a visita, assim como a medição de temperatura dos visitantes na entrada da unidade serão obrigatórias. Não será permitida a entrada de acompanhantes sem agendamento. Seguindo os protocolos das autoridades sanitárias, os fraldários das unidades seguem fechados nesse momento e, portanto, indisponíveis aos visitantes.

Serviço:

Pasteur, o Cientista

Local: Sesc Interlagos
Curadoria: Éric Lapie, Astrid Aron e Maxime Schwartz (este último, assina a curadoria científica)
Período expositivo: até 29 de novembro
Funcionamento: quarta a sexta-feira, das 10h30 às 15h
Tempo de visitação: permitida 10 pessoas a cada 30 minutos
Agendamento de visitas: http://www.sescsp.org.br/interlagos
Classificação indicativa: livre

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