“A sorrir eu pretendo levar a vida”, os versos de Cartola evidenciam o que muitos especialistas confirmam: rir é o melhor remédio. O simples ato é capaz de movimentar 80 músculos, mexer com o cérebro, garganta, coração, tórax e rosto. Além disso, estudos na área comprovam que expressar felicidade traz efeitos terapêuticos, reduz o estresse, queima calorias, melhora a qualidade do sono, fortalece o abdômen, ajuda na circulação sanguínea, no sistema imunológico e estimula a criatividade.
Mas qual será a relação do riso com a felicidade? Para a psiquiatra Maria Francisca Mauro, o riso pode ser uma expressão facial deste sentimento. “Rir é um demonstrativo externo de bem-estar subjetivo ou uma reação espontânea ao contentamento interno. Já a felicidade pode vir acompanhada de um sorriso espontâneo sem que nada de fora o estimule”, explica Maria Francisca.
É comum acreditar que a felicidade está ligada ao humor, mas a verdade é que o riso também pode marcar tristeza e angústia. A seguir, Maria Francisca Mauro analisa as variantes do riso.
Confira a entrevista da especialista:
Qual é a relação do riso com a felicidade?
O riso pode ser uma expressão facial da felicidade, ou seja, um demonstrativo externo de bem-estar subjetivo. Ele também se aproxima de uma reação espontânea a um estado de contentamento interno.
A felicidade em seu estado interno de satisfação pode acompanhar um sorriso espontâneo sem que nada de fora o estimule.
É verdade que o riso pode mascarar a tristeza e angústia?
Sim, alguns depositam no riso uma forma de minimizar a própria angústia e assim encobrir o que estão sentindo. De alguma forma, utilizamos um semblante externo de disfarce ou defesa para o “turbilhão” de emoções que estamos atravessando.
As entonações do riso podem indicar diferentes comportamentos?
Sim, desde uma maior reatividade ao humor, contenção ao expressar as emoções, até uma indiferença e apatia. O humor, no quesito fazer “graça”, exige um tempo rápido de reação e quebra do que era esperado.
Pessoas com depressão conseguem rir?
Sim, não o riso que muitas vezes consagra o prazer, mas o que encobre a dor. Um ponto importante é saber que existem níveis de depressão e características individuais de experimentar não sentir prazer e sim uma tristeza profunda. É importante não criar estereótipos quanto à depressão.
Sorriso solto pode indicar um traço de personalidade?
Na realidade, pode indicar um traço de temperamento, a forma de reagir a estímulos externos. O sorriso solto tem aspectos que variam da pessoa que ri de forma inadequada e provoca até certo constrangimento no interlocutor, ao que acha graça dos estímulos externos.
Quando a gente percebe um sorriso falso, à que se deve?
O sorriso falso ou aquele que não traz em si algo genuíno pode representar um esforço para ser “simpático”, ou mesmo acolher quem está conversando para encobrir um desconforto naquela conversa.
O ponto não é perceber a diferença ou julgar o “riso alheio”, mas se apropriar do riso como algo coerente consigo. Talvez neste momento tão prolongado de desprazer e pressão, o riso pode atingir um lugar de maior destaque e necessidade. Quando se ri de forma profunda e genuína, você provoca uma ruptura da angústia tão presente na fala atual.